A triste vida de um mictório¹


Ele é sujo, fica num lugar fedorento, é solitário.

E o pior de tudo na vida daquele objeto, só se relaciona com homens.

Como a humanidade reconhece desde o princípio – antes mesmo de qualquer coisa relevante ter acontecido – homens são idiotas (sim, somos). Adoráveis idiotas que sabem andar de ônibus e se calçar, porém, a despeito dessas incríveis habilidades, somos total e absurdamente dependentes das fêmeas, esses adoráveis seres que sabem se vestir.

Sempre juntos, mesmo nas plaquinhas de WC, mesmo com escadas.

Sempre juntos, mesmo nas plaquinhas de WC, mesmo com escadas.

Nesse momento, serei chamado de anti-machista pelos meus leitores que leem Men’s Health, mas não é isso. Apenas tento aqui sistematizar a sadia dependência masculina em relação ao sexo que não sabe jogar futebol. Não sou machista nem anti-machista (se é que essa palavra existe).

Veja você, muitos feitos da humanidade foram feitos e/ou descobertos por homens. Em sua maioria, casados. Os caras se reuniam (longe do olhar feminino²), trabalhavam, bebiam e voltavam para casa. Faltando um dia para o prazo acabar, pensavam e escreviam num guardanapo do bar qualquer coisa, como por exemplo E=γmc², e todos voltavam a comer bolinhos de bacalhau. No retorno ao lar, a esposa pergunta “amor, como foi no trabalho” e o homem numa só palavra falava “exxxxxxxxxxxxxxxtenuante”, e completava no pensamento “tinha uma espinha no bolinho”.

¹ Textículo baseado num texto muito feliz dessa cara.

² Homens quando estão entre si, principalmente quando são amigos, têm regras próprias, um contrato social novo, muito mais simples. Na presença do ser feminino, mudamos. Tentamos mudar para melhor.

**–

É um brincadeira, senhores e senhoras. Uma forma engraçada para demonstrar a imensa devoção de nós às mulheres. Sobretudo quando nós as amamos.

N.A. Garanto que não sou machista ou desleixado dessa forma.

Sapato de Macho


Em uma aula realmente interessante (de Eletrônica claro, o que mais poderia ser?) o professor havia dado um tempo para copiar o quadro, como eu já havia copiado passei-me a observar as estranhas peculiaridades da sala de aula: uma garota dormindo, um garoto olhando a rua, um cara questionando com outro cara o que estava escrito no quadro, um ar condicionado pingando e um tênis igual ao meu. Um tênis igual meu! Se eu fosse uma mulher desejaria esbofetear o dono tênis igual ao meu, jogá-lo aos leões. Como eu não sou mulher, desviei de pensamento: comecei a refletir sobre calçados.

Confesso que antes do exercício mental de refletir sobre o que acredito ser uma das invenções mais importantes do homem, eu tentei, me esforcei, fiz de tudo‼ Tinha por objetivo compartilhar os resultados aqui no blog, porém todo esforço não foi capaz de me fazer sentir ‘raiva’ do tênis igual ao meu (ou do dono), como uma menina o faria. Na verdade, eu não poderia estar mais indiferente a essa situação. Definitivamente não poderia.

Mulheres encantam com sua beleza, sua suavidade, sua percepção de mundo, seu perfume, seu sorriso, sua inteligência e sua sabedoria. Mas, apesar disso tudo, algumas mulheres (e falo isso por observação) parecem ter algum tipo de limitação na hora de escolher sapatos.

Espécies de homo sapiens sapiens do gênero feminino tem a Incrível (observe o i maiúsculo) capacidade de compor trajes de zilhões de maneiras diferentes mesmo tendo “só” algumas centenas de peças no armário – sabem do trapo fazer um vestido de rainha. Mas e os sapatos? Verdade que eles compõem o traje principal, dão o toque final; contudo existem opções mais confortáveis e lógicas a se fazer sem ter prejuízo visual. Por que num dia de chuva (em se tratando de chuva de verão aqui no Rio, São Pedro não brinca) usam sapatos abertos, sandálias rasteiras? Por que usar salto alto para ir à praia? Por que usar botas para caminhar? Sem dúvidas ficam bonitas, mas também ficariam se usassem sapatos mais confortáveis…

Ai eu me dei conta que o mundo funciona assim desde que descemos das árvores; se está dando certo, deixa quieto.

Voltei ao mundo da Eletrônica, não sem antes observar que o pé da (única) menina estava cheio de curativos.

Ri-me.

**–

Me disseram certa vez que tenho um viés machista. Concordam? Eu acho injusto.

Esse post inclusive demonstra minha preocupação e incentivo no desenvolvimento da capacidade feminina de escolher sapatos. Sapatos de macho em pés de damas.

Sanduíche de Leandro


Recentemente tenho sido estranhamente abordado por situações estapafúrdicas, minha cara feia não está assustando mais como antigamente.

Antes de narrar a triste decepção que me levou a ser um sanduíche, especificamente meus ouvidos, eu tenho uma consideração a fazer.

Saindo do CEFET/RJ para casa, eu tenho que atravessar uma passarela sobre a Av Maracanã e Radial Oeste para alcançar a estação de trem (to reach the train station, essa ficaria muito melhor em inglês). Escuto um camelô se lamentando “puxa vida, sempre trago sombrinha para vender, mas nesse calor trouxe picolé. Logo hoje chove e não trouxe um chapéu sequer” (modifiquei algumas conjugações e concordâncias na frase).

A consideração é que eu acho que ninguém mais nesse mundo além de mim e do camelô usa as palavras sombrinha ou chapéu como sinônimos de guarda-chuva. Se forem pesquisar a origem desta palavra, verão que sombrinha é a mais indicada (dica, no inglês é umbrella, que em latim significa pequena sombra). Vamos ao sanduíche-iche-iche.

Quando eu reachei a estação de trem, embarquei no trem e sentei num banco do trem, sobrou um lugar ao meu lado, sobre o qual sentou uma senhora que estava acompanhada da filha, que ficou em pé a sua frente. Tão logo o trem começou a andar (trem anda?) eu peguei meu livro e elas começaram a conversar, mau sinal, detesto conversas de trem/ônibus/metrô/avião/barco/patinete.

Elas começaram a falar sobre comida francesa (sic), qual seria a mais indicada para a Ceia de Natal e sobre os preparativos da festa. Pelo visto mãe e filha deviam trabalhar em um restaurante, pois comentaram sobre um chefe auxiliar. Nesse momento tive de olhá-las para analisar. Quem disse que no trem só tem pobre. Voltei a ler me livro.

Mas você poderia por Agatha Christie e Cecília Meireles para conversar e após um tempo elas começariam a falar coisas de mulheres, em francês, claro. Não foi diferente com elas.

Meus céus!! Como elas falaram!!! A pessoa no meu outro lado levantou e a menina sentou. Elas continuaram a falar, fazendo-me um sanduíche de besteiras, aspargos, fofocas, roupas e viagens. Fui obrigado a parar de ler, estava impossível pensar! Estava louco de vontade de foundi, comer foundi, fique claro.

Após meu desespero ter atingido um máximo local, surge uma mulher na minha frente e fala e fala e fala ao celular, atingi o máximo global. Este que vos escreve estava cercado por matracas sem controle!

Levantei duas estações antes da minha e sai de perto, meu pobre cérebro estava super inchado.

Uma tentativa de fazer um abracadabra

Não gosto de pessoas que falam demais em transporte público sobre comida.

Não gosto de pessoas que falam demais em transporte público.

Não gosto de pessoas que falam demais.

Não gosto de pessoas que falam.

Não gosto de pessoas.

Não gosto.

NÃO!

Espero que nessa festa possam encher suas bocas de aspargo e farofa.

–**

Sei que é deselegante ouvir conversas alheias, mas era pública.