A cidade é linda. Em ambas as margens do Elba tem-se um lugar para descansar, apreciar e pensar.
A Europa não está a toa no centro do planisfério. A Alemanha também não está no centro da Europa a toa.
Seja pela cruz ou pela espada, a cultura européia se difundiu pelos quatro cantos do planeta, sem exceções. Seja pelo comércio britânico, a Engenharia alemã, as embarções portuguesas, o luxo francês, a espada espanhola ou pela religião de Roma, cada pedacinho do planeta Terra deve tributos ao Velho Mundo. O Ocidente deve-se inteiramente; o Oriente, também.
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Era um típico final de inverno. Os corvos anunciavam o final do dia. Aos dez minutos para as 18h, os sinos começam a dobrar. Alta e belamente. Suave e profudamente.
Às 18h os sinos dobram com intensidade de sentimentos dobrada. É a hora da Ave-Maria. Os sons vêm das igrejas luteranas, católicas, anglicanas, ortodoxas. Todos os povos prestam homenagem à Mãe de Deus.
Nessa hora um homem olha o relógio e continua andando. Eu tiro a boina por respeito. Os corvos se calam. As crianças gritam e correm alegres pela Hauptstraße. Algo surge de especial no ar. E era algo bom. Eu estou na Europa.
O tapete cor de rosa formado pelas flores, ainda pequenas, contrastava com as árvores desfolhadas. O frio congelante do ar contrastava com o calor que cada homem e mulher tinha.
O lindíssimo visual das praças, das flores, da estátua dourada, da perfeita harmonia do todo e do rio Elba somado ao entorpecente som dos sinos das igrejas me fazia sentir num sonho, estava num lugar etéreo. Contudo, estava na Alemanha.
Desde sempre as terras germânicas me chamavam a atenção pela sua história, por sua grandeza e riqueza. E num repente do destino com as bençãos da Providência aqui estou eu.
Os colegas do Brasil me solicitaram que escrevesse as impressões que estou tendo. Ora pois, é impossível. Como posso falar num simples post as caracteristicas de um país formado por estados quase tão antigos quanto o tempo? Certas coisas não podem ser expressas de forma lata, se grandes mentes não o souberam fazer, não será este modesto blogueiro que o saberá.
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Grata surpresa ao achar, numa das muitas praças, uma Esfera Armilar. Afinal, mesmo o centro do mapa precisa de instrumentos de navegação para ser compreendido e navegado.
Estou numa cidade de Tradição luterana, cujo último rei foi católico e sob o domínio soviético virou atéia. Muito embora a religião não seja assunto maior aqui, o maior emblema da cidade é uma igreja.
Uma capela feita para o bispado católico, vira uma igreja luterana, que é destruida na segunda guerra. Foi restaurada como símbolo de união. Que impressiona qualquer um que a visite. Especialmente se o visitante for à “sala da destruição”: é uma sala no subterrâneo da igreja que não foi restaurada, ficou intocada desde o fim da guerra. Até hoje se veem a cruz de pedra e parte do altar, quebrados. O cheiro é pesado. Cheira a destruição, a poeira, a morte. De uma aflição sem igual.
Ainda outra história triste. Estava saindo da missa e escuto um sino a badalar loucamente. Vou atras dessa igreja, guiado somente pelo som. Veja sua torre imponente, ao chegar dou de cara com um cemitério, ao observar melhor vejo que é uma igreja fantasma, totalmente destruída! Somente seu sino a cantar, como uma sina. Uma lembrança perpétua dos horrores da guera.
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De limpeza e organização impecáveis, os habitantes sentem-se verdadeiros bad boys ao atravessarem com o sinal fechado. É engraçado. E graça não é coisa comum, o maior trocadilho que vi aqui até agora foi CarGo Tram. Engraçado? Nein.
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Europeu dança muito mal.
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A estrutura da universidade é muito boa. Digna de um país que está no centro do mapa.
A organização do sistema alemão de ensino/pesquisa/indústria é muito boa. Digna de um país que além de estar no centro do mapa é a segunda maior economia do Ocidente.
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E não convem falar mais. Esse post ficou parecido com os de temas-livres “Alguns casos I e II“. Para saber mais é só pegar um vôo de 15h, conexão inclusa, para cá.
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Era um típico começo de primavera. Aproximavam-se das doze horas. Um dia frio, como quase todos aqui; um dia bonito, como quase nunca se vê aqui.
Os sinos tocavam novamente para homenagear Maria.
Os sinos sempre tocam nessa cidade, “os sinos dobram acima de qualquer momento humano passageiro“.